quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Deserto e a Bíblia [parte I]

Ler as histórias do deserto da Bíblia sem perceber o senso de perigo implicado é perder algo vital. O livro de Êxodo descreve a saída dos israelitas do Egito e sua dramática travessia do mar. Raramente, porém, lemos adiante. Por traz deles, o mar fechou-se. E à sua frente, nada além de... pedras, areia e calor.

Aqui está a surpresa. O mesmo deserto que ameaça é o que forma os maiores líderes de Israel. Praticamente todos os grandes personagens bíblicos - Antigo e Novo Testamentos - passaram algum tempo no deserto e foram formados pelas experiências que tiveram. Abraão veio do deserto e foi chamado para estabelecer-se em Canaã. Jacó fugiu de seu irmão Esaú e foi para o leste - para o deserto - onde Deus o encontrou. Moisés fugiu do Egito após matar um guarda egípcio, e no deserto do Sinai encontrou Deus, aceitou sua missão e retornou ao Egito. Israel passou quarenta anos no deserto imediatamente após nascer como nação no Sinai. Davi foi um pastor do deserto, fora de Belém, antes de ser escolhido como rei de Israel. E quando Saul perseguiu-o, retornou ao deserto ao qual conhecia tão intimamente.


Os profetas conheciam bem o deserto. Após Elias haver matado os profetas de Baal no monte Carmelo, fugiu para o deserto ao sul. Quando chegou à região do monte Sinai, Deus o encontrou. Amós era do vilarejo de Tecoa, uma remota aldeia desértica ao sul de Belém.

Até quando lemos o Novo Testamento, temas paralelos emergem. João Batista conduziu seu ministério ao longo do rio Jordão, o que requeria que as pessoas cruzassem o deserto para ter com ele nesta região remota. Jesus começou seu ministério após João batizá-lo, e passou quarenta dias no deserto entre Jericó e Jerusalém. Até Paulo, perseguindo os convertidos na estrada de Damasco, entrou no deserto da Arábia e passou três anos lá antes de emergir em Jerusalém como um articulado e confiante cristão.

O deserto repentinamente deixa de ser um elemento incidental nas histórias bíblicas para tornar-se um tema importante, suportando um tremendo peso teológico. Deus  usa o deserto como um lugar para moldar seu povo. Existe, de fato, algo de ameaçador aqui, mas de construtivo também. O povo é silenciado no deserto, pois vê sua vulnerabilidade e necessidade de estar sujeito a Deus com clareza renovada. Entende, finalmente, que a vida é frágil, e que sem ajuda e intervenção, a vida se perderá. Quando o povo entra no deserto pela primeira vez, seus temores são avivados.

Continua no próximo post...


Em Cristo,
André Gonçalves


Bibliografia:
Burge, Gary M. - A Bíblia e a Terra - CPAD, pág. 43,44,45.

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